Litoral, Literal, Lutoral

Galeria Coletivo Amarelo – Lisboa, 2024

Curadoria Cristiana Tejo

Por que as súbitas mortes acontecidas em dias profundos, de sol, te impressionam e te comovem?

Mário Peixoto, A voz da grande calmaria

Como num sonho uma casa vermelha desponta e performa uma narrativa que parece não ter começo e nem fim. Ela é a personagem principal da estória contada na série Casa de Praia. Num ritmo e recorte fílmicos, a vemos ao longe, conseguimos vê-la por dentro, mas não percebemos ao certo se ela está sendo engolida pelo mar ou emerge do mar. Essa é a casa em que Gabriela e sua família passavam as férias de verão até uma discussão levá-los a veranear em outra praia, onde a tragédia aconteceu. Depois da morte, um outro corte ocorre, o impedimento de voltar a esta vivenda. Na pintura ela assombra por sua vivacidade e autonomia. É o contrário da literalidade. O poeta Wally Salomão já dizia que a memória é uma ilha de edição e essa condição aparece em praticamente todos os trabalhos presentes nesta primeira exposição individual de Gabriela Albuquerque.